ABUSO SEXUAL - Eu fui Vítima



Abuso Sexual, seja parte da solução deste problema!

O dia de hoje é um marco na atitude de enfrentar a realidade da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Este dia foi escolhido em referência a menina Araceli Cabrera Sánchez Crespo, a criança de 8 anos foi, sequestrada, drogada, espancada, estuprada e morta, a criança teve o seu rosto desfigurado por ácido...

Enfim, sem abusar desse horror para fazê-los entender, apenas concluo que todos os acusados deste caso, ficaram impunes. Infelizmente, até o dia de hoje! (18 de maio de 2017)


Por ter sido vítima de abuso sexual, tentativa de estupro, molestação, voyeurismo, e nunca ter denunciado por medo, hoje dedico-me a ajudar vítimas de abusos e denunciar casos.

Sempre voltando ao tema, insisto em escrever por ter sido muitas as mensagens de agradecimento e pedidos de ajuda que recebi aqui no meu blog após a primeira publicação sobre o assunto em 2012.

Resolvi trazer luz sobre este assunto usando minha própria história como bandeira dessa luta. 

Luta esta muita justa, afinal lutamos por aqueles que sozinhos nada podem fazer para se proteger, nossas crianças.

O abuso e exploração sexual é uma ferida feita na infância ou adolescência, mas pode se tornar um câncer emocional na vida deste quando adulto. 

Não é um crime cometido apenas contra a infância ou adolescência do indivíduo, mas principalmente contra sua vida, sua história e seu futuro. 

O que vou compartilhar aqui certamente terá proporções que eu nem posso imaginar, mas me sinto livre para fazer isso, finalmente sou livre para romper com o silêncio, já testemunhei isto em palestras que dou por onde vou, e decidi tornar público este acontecimento para que outras vítimas possam ser encorajadas a denunciar seus agressores.

Certa vez recebi um convite de caráter muito duvidoso da parte de um homem, marido de uma tia minha, senti medo quando ouvi seu convite e mesmo sendo criança compreendi que aquilo não era certo, não fui ao encontro, mas também não tive coragem de contar a ninguém, depois quando cresci compreendi o perigo a que estive exposta. Até hoje, não reencontrei novamente este familiar, em parte porque fiz de tudo para me afastar e em parte por ele ter evitado o encontro.

Quando era menininha e morava em outro estado, tínhamos um vizinho que vivia perguntando a minha mãe se eu já havia menstruado infelizmente ela não percebia o tom de malicia em sua pergunta, os olhares daquele homem em minha direção me apavoravam e me deixavam completamente paralisada. A negligência familiar também pode ser crime.  

Código Penal:
Art. 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.

Sempre fui uma criança muito doente, tive vários problemas graves de saúde desde que nasci, um deles é o fato de sofrer com dores por todo o corpo (hoje sei que se trata da síndrome fibromialgica), por essa razão eu não tinha condições de fazer a educação física na escola, então, com meus 12 anos fui encaminhada a um órgão do Estado responsável por substituir a educação física por fisioterapia, lá passei pela avaliação do médico para receber encaminhamento para o tratamento adequado, mas o médico que me atendeu era um pedófilo, um voyeur, acredito não ser necessário dizer o que aconteceu dentro daquele nojento consultório, medo e insegurança tomaram conta da minha alma. E sangrei na alma por vários anos.

Nesta época eu já andava sozinha, minha mãe e nenhum outro responsável me acompanhava mais, e eu já "resolvia" meus problemas, sozinha...

Pais e/ou responsáveis, mesmo que seus filhos sejam espertos e maduros para a idade deles, eles ainda continuarão carentes de sua atenção e cuidado, converse com seus filhos, alerte-os e ACREDITE NELES. 

Desesperada com a situação, mas sem ter com quem compartilhar, eu saia de casa e me encaminhava até aquele lugar, mas chegando lá eu me escondia na quadra de esportes pra não ter que chegar perto do lugar onde eu deveria fazer o acompanhamento médico, eu tinha medo daquele homem aparecer e eu não ter o que fazer, não ter como me proteger.

E foi assim que eu passei todo aquele ano. 

Depois de algum tempo, eu descobri que havia outra maneira de me cuidar sem ter que sofrer nas aulas de educação física que eu não podia fazer e sem ter que voltar aquela instituição, descobri que eu podia me matricular numa academia e fazer exercícios localizados, pedi aos meus pais e eles toparam (Graças a Deus), me matriculei numa grande academia que tem até hoje no centro de Belém, e lá foi tudo diferente, eu estava aliviada, me sentia segura...até o dia em que meu professor se ofereceu para me fazer uma massagem, eu estava com muita dor e confia plenamente naquele homem, afinal ele era meu professor na academia, como não confiar, não é?! 

Mesmo sendo muito esperta, não pude adivinhar o que se passava na cabeça daquele pervertido. O professor na verdade era um molestador.

Certamente não preciso dizer mais nada sobre o que aconteceu ali, naquela  tarde. 

Estava apavorada, como iria resolver isso? 

Com quem eu poderia contar? Pra quem eu poderia contar, quem acreditaria em mim?

Pensava comigo mesma, “se eu disser ao meu pai é capaz dele dizer que a culpa foi minha, e minha mãe vai ficar nervosa vai passar mal e a culpa será minha, e talvez tenha sido mesmo culpa minha o que aconteceu...” 

Eu sofria com o acontecimento, sofria por não ter defesas, por não ter para quem contar e sofria por me sentir culpada do que havia acontecido, um sentimento que acompanha a maior parte das vítimas de abuso e exploração.

Um dos maiores desesperos do sobrevivente de abuso é carregar a culpa. 

NÃO IMPORTA O QUANTO UMA CRIANÇA SE “OFEREÇA”, OU ESTEJA SUBMISSA SEXUALMENTE A ALGUÉM, TOCÁ-LA É ABUSO SEXUAL PELO SIMPLES FATO DE ELA NÃO TER MATURIDADE SUFICIENTE PARA UMA DECISÃO SEXUAL E SUAS IMPLICAÇÕES.

Muitas vezes o ato em si não foi explicitamente e fisicamente violento, mas, a violência das emoções destruídas dentro de nós causa uma desintegração do nosso ser, nossa alma fica ferida, nossa mente deturpada, nosso corpo exposto, e nosso coração sangrando.

Todos os outros relacionamentos ficam comprometidos.

Medo, nojo, raiva, tristeza, insegurança, e culpa, muita culpa, estes são apenas alguns sentimentos que acompanham as pessoas que foram vítima de pedofilia, um crime hediondo, pois mata aqueles que permanecem vivos, cala aqueles que permanecem falando, e deixa paralisados aqueles que podem se locomover. 

UMA CRIANÇA NÃO É CULPADA PELO ATO SEXUAL A QUAL FOI SUBMETIDA, NÃO IMPORTA SUA DECISÃO EM RELAÇÃO AO MESMO!

Um crime das trevas que enche de escuridão a vida das suas vítimas.

Precisei de muito tempo pra me libertar e começar a sarar, sim, precisei da ajuda de Deus para voltar a vida, precisei da cura que flui da Graça de Deus para sarar as feridas da minha alma, precisei da imensa misericórdia de Deus para perdoar todos os envolvidos, precisei de coragem para viver e principalmente para romper com o silêncio.

O silencio é o câncer que nasce na alma das vitimas e que alimenta a impunidade, perpetua a dor, e elimina todas as outras células boas que existem em sua vida. 

Resolvi compartilhar minha história com o objetivo de alertar, pais, avós, tios e tias, professores, líderes e pastores e todos os que representam de forma idônea algum tipo de autoridade sobre uma criança e/ou adolescente para esta realidade.

Não nos deixemos enganar pela ignorância, estes casos são mais comuns do que se imagina, infelizmente. Mas, comum, não deve significar aceitável.

Pais, é dentro de casa que as crianças podem ser expostas pela primeira vez a este terror, é dentro do seio familiar que acontecem os primeiros casos e na verdade a maioria deles.

Ser prudente não significa duvidar até da própria sombra ou ver coisas onde não existem.

FIQUE ALERTA AOS SINAIS -

Você pode proteger seus filhos se você simplesmente se colocar atento a sinais, como: 
mudança de comportamento, choro e sensibilidade exagerados ou incomuns, estresse sem motivo ou rebeldia infundada, interesse ou desejo exacerbado por sexo, isolamento, atitudes de rejeição a reuniões familiares, escolares, ou um repentino descontentamento com o balé, com o judô ou futebol, ou simplesmente não querer mais tocar aquele instrumento que queria tanto aprender, ou desinteresse por aquilo que antes deseja. 

LUTE E PROTEJA SUAS CRIANÇAS -

Uma família bem estrutura, pais atentos e presentes, uma família onde reina a liberdade do diálogo dificilmente será vítima desta violência.

Diálogo é uma arma fundamental para a prevenção.

Fale abertamente com seus filhos, fale com a sua igreja, fale na reunião das vendedoras, na reunião do chá, fale na pescaria com os amigos, no bar, no futebol, na piscina, estudando, nas férias, enfim torne este assunto público, tire este tema das trevas e traga-o para luz. 

“Mas todas estas coisas se manifestam, sendo condenadas pela luz, porque a luz tudo manifesta. Efésios 5:13” 

Crie debate na sua escola, denuncie, abra a boca, escreva um artigo para a internet, faça alguma coisa prática além de se compadecer. Use as redes sociais. 

“Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta. Tiago 2:26” FAÇA ALGUMA COISA! 

Eu poderia continuar escrevendo e escrevendo e escrevendo, mas acredito que já seja o suficiente por hora.

Somos responsáveis por proteger nossas crianças, então é em nós que começa a guerra declarada contra o abuso e exploração sexual, é dentro dos nossos lares, é dentro de nossos grupos pequenos de convivência é dentro das igrejas e em qualquer lugar onde haja a oportunidade de trazer este assunto a tona para que haja conhecimento e prevenção, e também DENÚNCIA. 

Este é um crime que precisa ser prevenido muito mais do que punido, por que depois de cometido há condenação para ambos, tanto para o agressor quanto para a vítima. 

Por favor, não estou dizendo que o agressor não deva ser punido, estou apenas dizendo que, como diz a minha vó: “É muito melhor prevenir do que remediar!”.

Proteja suas crianças criando um ambiente de esclarecimentos, práticas de proteção como estar presente na vida delas e ensinando meios de seus filhos identificarem um agressor sem causar-lhes medo de tudo e todos, mas de uma maneira natural introduzir o assunto ensinando sobre os comportamentos aceitáveis e os comportamentos não aceitáveis. 

Converse com seus filhos e ajude-os, mas se por uma acaso você não consegue falar porque também foi vítima, então é hora de você procurar alguém para conversar, romper com o silencio e ser livre.

 PROCURE AJUDA, URGENTE!

Deus com seu poder e amor vai curar seu coração e restaurar a sua alma, e dar a você uma nova vida, e os orgãos competentes estarão somando nessa missão e a justição na punição necessária.

Minha sincera e simples parcela nesta que é uma justa luta! 

DISQUE 100 É UM SERVIÇO GRATUITO E FUNCIONA 24 HORAS POR DIA, SUA IDENTIDADE SERÁ PRESERVADA, NÃO TENHA MEDO!









Com amor,
Danny Noronha Ramos.
18 de maio de 2017



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