Coração Bulímico
Somos privilegiados, somos a
geração que conquistou a chance de manter contato com o maior número de pessoas
possível.
Amigos, família, colegas de trabalho, clientes e até astros do rock,
celebridades, autores de livros preferidos, enfim, estamos bem perto daquilo
que antes era tão distante e de difícil acesso.
Nas redes sociais, presente,
passado e futuro se unem numa explosão de convivência que rompeu a barreira do
tempo e espaço.
Quando eu era criança o
máximo que eu conhecia e convivia era com a turma da rua de trás, alguns
vizinhos, os coleguinhas da escola, e a família, e olhe lá.
Tínhamos poucas chances de
estar junto de quem gostávamos, tínhamos menos oportunidades para estar em
comunhão, para brincar, para conversar e declarar nossos sentimentos por quem
amamos.
O bate papo tinha que
esperar o almoço de domingo, as férias, os aniversários, casamentos, o futebol
do fim de semana, as reuniões da escola, natal e feriados prolongados.
As chances de estar em
contato com as pessoas eram pequenas, grande mesmo era a vontade de ter uma
maneira de ficarmos juntos por mais tempo.
Pois bem, o tempo passou e o
desenvolvimento da ciência, tecnologia e informação, e voilà , temos o advento da internet, a expansão das comunicações,
transformação da telefonia, os celulares, as mensagens de texto, o correio eletrônico, os smartphones, as
redes sociais, as ligações de longa distância simplificadas, não existe mais um
lugar longe demais que você não possa se conectar a outras pessoas a hora que
desejar.
QUE MARAVILHA!!!
Deveríamos ser a geração
mais feliz de todos os tempos.
Mas, porque será que isso
não está acontecendo? Porque será que estamos sendo reconhecidos como a geração
mais depressiva, mais egoísta e mais solitária? Porque é tão grande a
facilidade para estarmos juntos e cada vez mais nos sentimos sozinhos? Porque o
número de suicídios, de divórcios, de rompimentos e separações nos
relacionamentos em geral, aumentou?
Por quê?
Eu criei um conceito: Não
adianta ter fartura em contatos, se perdemos a sensibilidade. Temos mesa farta
para os relacionamentos, mas, nosso coração é bulímico.
Temos todas as oportunidades
do mundo de nos relacionarmos da melhor maneira possível, de sermos fartos de
carinho, amor, atenção e companhia. Mas, adquirimos um distúrbio que chamo de “Bulimia
Relacional”, caracterizo pela ingestão excessiva de relacionamentos, um
sentimento de descontrole na administração dos mesmos, um aumento exagerado de
apetite relacional; Bulimia dos relacionamentos é quando a pessoa ingere em
excesso diversos tipos de relacionamentos com diversos tipos de personalidades
diferentes, e depois induz o vômito.
O bulímico relacional vive a
expansão das oportunidades dos relacionamentos, mas seu coração não acompanhou
o processo.
São pessoas despreparadas
pra relacionar, despreparadas para lidar com as diferenças, com o excesso de
informação sobre o outro e até sobre si mesmo, essa geração do coração bulímico
é muito boa em se fartar de uma grande quantidade de pessoas ao seu redor, mas,
é incapaz de lidar com as consequências disso.
As vítimas de bulimia
relacional vomitam seus relacionamentos com a mesma energia com que os
conquistaram. Amigos estão se tornando inimigos, estranhos, familiares estão
hoje mais distantes do que antes, os amores, não passam de status num perfil on
line de uma geração que está definhando, perdendo para si mesma. Fartas em
oportunidades, mas com ânsia de vomitar o que tanto desejou.
Precisa-se de equilíbrio
emocional, urgente! O problema não está na quantidade e nem na qualidade de relacionamentos que temos, o problema é não estamos permitindo que eles nos nutram, não sabemos extrair deles os nutrientes necessários para fortalecer a saúde dos mesmos, estamos simplesmente abrindo mão das relações por medo, e isso, adivinha?! Só faz mal pra você mesmo.
Danny Noronha Ramos
14 de janeiro de 2017.
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