O Direito de Respirar - Sobre Pandemias - Saúde , Racismo e Indiferença

DANNY NORONHA

Em uma sequência temporal que durou mais ou menos trinta minutos, um evento envolvendo o relato sobre uma nota falsa de 20 dólares, terminou em morte.  


Em pouco tempo um homem estava morto e a câmera de um celular registrou as últimas palavras, os últimos suspiros de George Floyd, um americano, que já sob custódia, completamente dominado pela polícia, teve seus apelos  de “I can’t breathe” (eu não consigo respirar) ignorados, o homem que estava pressionando seu pescoço e impedindo Floyd de respirar, tinha a missão de “proteger e servir” a sociedade, mas infelizmente Floyd não respirava mais. 


O motivo da morte: ele era negro.

 

A ausência de ar nos pulmões daquele homem fez o mundo soltar novamente um grito preso na garganta, um grito de alerta, o pulmão daqueles que não se conformam com as injustiças sociais que estão presentes em todas as nações ao redor do mundo, se encheu de ar 

por Floyd, e eu estou nesse processo. 


E puxo ainda mais forte a respiração para que nessas palavras que escrevo ecoe minha revolta também pela negligenciada criança brasileira, o menino Miguel Otávio Santana da Silva, uma criança de apenas cinco anos. Miguel caiu do nono andar de um prédio em Pernambuco. 


Segundo o relato da sua mãe que trabalhava para uma família no prédio, e mesmo na pandemia, não foi liberada pelos patrões e tinha que levar a criança para o trabalho, contudo enquanto ela precisou levar o cachorro da patroa pra passear a criança ficou aos cuidados (ou melhor, a indiferença e a negligência) da patroa que permitiu que a criança usasse o elevador do prédio sozinho, e com isso ele foi parar na área externa e caiu, não há mais respiração nos pulmões de Miguel. 


Motivo da morte: ele era negro. 


Quantos e quantos “Migueis e Georges” foram expostos a morte por anos, por décadas, por séculos...?! Vários mortos, vários seres humanos que tiveram seu direito de respirar suprimidos, e a causa é a mesma ainda hoje, eles eram negros. 


O racismo está entranhado na história, nas culturas, nas listas de protagonismo dos filmes, das novelas, onde o negro nunca era listado para ser o mocinho, ou para representar a figura do patrão, o racismo está também nas lições do dia a dia, nas heranças educacionais passadas de pais para filhos... 


Estamos vivenciando nos últimos meses, algo que posso facilmente definir como o ano mais bizarro das últimas décadas. 2020, nos mostrou literalmente, como a sociedade brasileira, e na verdade, todas as outras sociedades no mundo, têm sérias fragilidades em suas estruturas no que diz respeito a garantia da vida. 


Descobrimos que estamos em situações não muito distantes das realidades vividas no século passado, ainda estamos expostos e vulneráveis a pandemias, sejam de saúde ou social, a Covid-19 e o Racismo, atacam e subjugam suas vítimas causando a incapacidade de respirar de forma livre e tranquila, ambos Covid-19 e Racismo, têm a mesma letalidade, contudo, é o racismo que mostra sua faceta mais cruel, porque é no racismo que se manifesta o fenômeno voluntário do homem contra seres humanos, que são julgados, condenados e assassinados simplesmente por serem negros, ao contrário da covid-19 o vírus é o racismo e ele acomete aqueles que ainda não compreenderam que “BLACK LIVES MATTER” (VIDAS PRETAS IMPORTAM), pessoas que ainda acham que se você é negro, então 

não deve ter o direito a respirar. 


Precisamos entender e falar sobre o assunto, precisamos aprender e ensinar que todas as vidas importam, que as pessoas negras importam, que respirar é muito importante e é um direito de todos. 


Antes de escrever isso, eu me deparei com uma cena num telejornal onde milhares de pessoas, pretas, e brancas, se aglomeraram para protestar contra o racismo. 


E meu corpo inteiro arrepiou, que imagem e ato poderoso. 

Mesmo com máscaras por causa da proteção contra um vírus, homens, mulheres e crianças saíram as ruas, juntas, ombro a ombro por uma causa “O DIREITO DE RESPIRAR’, todas aquelas pessoas estão dispostas a morrer pela causa, estão expostas e correm o risco de morrer por covid-19, mas isso não as faz recuar, porque estão dispostas a usar a força de seus pulmões e darem suas vidas pelo direito de respirar mesmo que isso as exponha ao perigo de adoecerem justamente com um vírus que ataca o sistema respiratório. 


Foi então, que entendi que: 

O SER é mais importante que o VIVER. Afirmar o valor da nossa existência é mais forte que o temor da morte. 

Viver, e não temer a vida, torna a morte irrelevante. 

Sim, a covid-19 é uma pandemia, mas não oferece tanto risco quanto o racismo. Essas pessoas estão nas ruas e registramos, aqui me incluo, tudo isso, porque a vacina para o racismo é a atitude de mostrar quem somos, SERES HUMANOS. 

Porque, o SER HUMANO não quer apenas SOBREVIVER, o SER HUMANO, QUER SER humano, COM DIREITO a sua mais essencial experiência humana, RESPIRAR! 

O mundo inteiro luta pelo direito de respirar!


Danny Noronha 

Comentários

  1. Hoje mesmo a minha filha fez uma historinha e a mesma relatou sobre o racismo.
    A professora amou o assunto e também ajudei e expliquei um pouco sobre, pois desde pequena ela tem que entender que cor de pele não diz sobre o caráter.

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    1. Exatamente. Nossa missão como pais é educar. Bjo na alma

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  2. Respostas
    1. Precisamos continuar falando sobre isso. Obrigada pela visita ao meu site, bjo na alma

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