A sensibilidade é uma fraqueza?
"Eu estou tão sensível!"
Vocês já repararam o medo que temos de nos sentir assim?
Você alguma vez já se pegou bravo por perceber que está choroso, sensível?
Uma vez eu estava tão brava em estar assim que disse: "que merda de sentimentalismo, que droga de chororô, que frescura é essa agora que tá acontecendo comigo que tudo eu choro?!" Eu estava muito chateada em estar sensível.
Porque rejeitamos nossa sensibilidade, porque a estranhamos tanto?
Pois é, eu venho refletindo sobre isso, porque nos últimos dias algumas pessoas têm demonstrado estranheza ao perceber que estão mais sensíveis do que o "normal".
E vamos caminhar um pouquinho sobre essa reflexão. Será que realmente existe esse normal? Será que existe esse normal que a gente pensa? Que normal é esse?
Que tipo de normal é esse que a gente criou o conceito que chorar, estar sensível, estar mais inclinado ao coração e as emoções de humanidade, significa estar fora do normal?
Nós, de forma imatura e completamente equivocada, criamos o conceito de que ser ou estar sensível é ruim.
Que conceito é esse que escrevemos dentro de nós a ideia de que ser/estar sensível é ruim, é estar vulnerável, é estar exposto, é desagradável.
E pior, alguns de nós acreditam sem perceber que ser/estar sensível é demonstração de fraqueza, de falta de fé, de decadência emocional ou espiritual, ou de desequilíbrio psicológico.
Você já parou para pensar que talvez nossas mazelas psicológicas tenham raízes justamente na negação de nossa sensibilidade, na negação e negligência do nosso ser sensível?
Como chegamos a esse ponto? Quem nos ensinou a ser assim tão ignorantes (me perdoem a palavra) emocionalmente, psicologicamente, espiritualmente?
Quando uma criança nasce, seu choro significa vida e saúde, aos ouvidos dos pais parece a sinfonia da vitalidade sendo tocada em sol maior.
Chorar deveria ser nosso momento de maior força e poder, deveria ser nosso grito de vida diante da dor, medo, cansaço, fragilidade, frustração... Tomara compreendamos à partir de agora a profundidade disso.
Fazemos um monte de "idiotices" só para arrancar um sorriso de quem amamos, ou uma gargalhada de uma criança, criamos vozes bobas, caretas e músicas desafinadas, tudo para sensibilizar quem amamos.
Você não concorda comigo que é muita incoerência negar a sensibilidade, quando a temos por exemplo de reação positiva numa relação?!
Olhamos para as pessoas chorando nos pódios e vencendo suas adversidades e achamos lindo vê-las tão emocionadas.
E ainda mais, quando vemos pessoas conquistando algo e demonstrando indiferença pelo prêmio ou algo desse tipo julgamos a pessoa, chamando-as de insensíveis, soberbas, ingratas etc.
Quando estamos falando com alguém sobre nossos sentimentos e dores nos assusta ver a pessoa completamente indiferente emocionalmente, aliás nos magoa, conceituamos esse tipo de gente, chamamos de "sem coração" as pessoas que não demonstram suas emoções.
Mas, quando nós estamos sensíveis achamos isso ruim. Onde está a coesão nisso?
Colocamos razão e sensibilidade em lados opostos, sem perceber que não há nenhuma razão em sermos insensíveis.
Que coerência há nesse pensamento? Que tipo de inteligência existe nisso?
Eu respondo: não há nenhuma inteligência nisso!
Porque tememos tanto a sensibilidade, ou porque a rejeitamos, ou mesmo, a estranhamos?
Porque nos sentimos desconfortáveis diante dela?
Eu sei que a essa altura você já respondeu mentalmente a essas questões, ou ao menos tentou.
Eu sei também que talvez você tenha justificativas teológicas, filosóficas ou mesmo culturais para justificar o fato de estranhar a sensibilidade ou o fato de rejeitá-la.
Mas, tem uma coisa que eu descobri sobre mim, e sobre ser sensível, eu sempre fui extremamente sensível. Eu ouço as árvores, eu ouço as folhas, suas raízes, eu sinto o por do sol, o vento fala comigo, as flores em ensinam, os pássaros me contam segredos, e as pessoas...ah, as pessoas, elas estão sempre me dizendo coisas sem querer, sem perceber, sem saber.
Eu já tive muita raiva de ser assim, sensível. Eu já quis tanto não chorar, e ficava brava quando aquele calor em gotas molhava minha face, principalmente diante de outros seres humanos. Eu queria não chorar e eu fazia tanta força para isso não acontecer que a minha garganta doía.Eu queria ser indiferente, eu queria ser fria, eu queria olhar as pessoas e não me importar, eu queria simplesmente esquecer e odiar algumas pessoas, mas eu não conseguia e isso me deixava frustrada.
Então, se você está lendo isso e está aí se achando super poderoso porque consegue "não sentir", eu já tive inveja de você, mas hoje eu tenho dó. E se você ficar bravo comigo por eu dizer isso, sinto informá-lo mas você está falhando na missão, mas se você leu e compreendeu, há uma enorme chance de você ser mais feliz daqui em diante.
Eu não queria ser tão sensível, eu não queria me sentir vulnerável, eu não queria me expor, eu não queria mostrar minhas fraquezas nem demonstrar o quanto as pessoas e as coisas me atingiam, eu tinha um sonho, uma meta e trabalhei duro para alcança-la. Eu queria não me importar com coisas pequenas.
Meu objetivo era rebaixar o valor das circunstâncias, das situações ruins e até das pessoas, eu queria transformar tudo isso e coisas pequenas e desprezíveis sem efeito sobre mim, cada vez que algo ou alguém me causava algum tipo de sofrimento ou desconforto, eu entrava como o meu plano "não vou me importar com isso, eu não me importo com coisas pequenas!"
Mas, quanto mais eu me esforçava nessa missão mais eu me sentia longe de mim mesma, de alguma forma que eu não sabia explicar eu sentia que aumentava dentro de mim um vazio que me consumia, uma dor estranha que pressionava o meu peito. Era horrível ser assim, e que bom que falhei miseravelmente nesse objetivo.
Eu fiz grandes descobertas em pequenas coisas, coisas simples e sensíveis.
E como a maioria dos grandes descobridores, eu descobri observando as pequenas coisas, as coisas simples da vida que o meu poder estava justamente em ser sensível.
Eu passei tanto tempo achando que ser sensível era contraproducente que foi uma enorme descoberta aprender que não apenas a minha força, mas a vitalidade humana habita na sensibilidade.
Ser sensível não é o mesmo que ser vulnerável, ou fraco, ou decadente.
A sensibilidade não é uma fraqueza, a sensibilidade é o domínio sobre o que nos faz fracos.
Ser sensível é saber que a sua força está em lidar, respeitar e se permitir ser aquilo que o faz estar mais próximo do que define um ser humano, sua sensibilidade.
Há força e poder em viver sua essência, há vigor e esperança em compreender sua existência passageira, há sabedoria em ver o belo que é sentir, ter emoções e perceber a vida em cada toque, em cada relação, e cada som, em cada palavra em cada dia vivido.
Há poder em compreender que as adversidades e dores fazem parte da vida real.
Eu me dei conta de quão maravilhoso é ser sensível quando descobri que isso me fazia mais semelhante ao caráter de Deus, me deixava mais pertinho dele.
Não é possível que alguém que tenha criado aproximadamente trinta e cinco mil espécies diferentes de orquídeas, que criou mais de sessenta mil espécies de árvores diferentes e tantos pássaros que hoje esse ano, 2021, uma pesquisa foi lançada e chegou a estimativa de que há mais, muito mais de cinquenta milhões de espécies de aves no mundo.
E quanto a nós seres humanos, tendo apenas uma distinção que possa nos definir que é homo sapiens, mesmo sendo uma única espécie somos tantos e tão diferentes, tão únicos, em DNA, em digitais e outras classificações exclusivas, como pode Deus ter criado tudo isso, sem ser brutalmente sensível?!
É aqui nessa revelação que abandono minhas conjecturas e dilemas, minha perplexidade e qualquer dúvida insistente. Aceitar nossa sensibilidade, nossa humanidade, é aproximar-se do caráter de Deus, é assemelhar-se ao criador.
Penso que toda nossa confusão e incômodo em sentir-se mais sensível mora do desconhecimento de nossa essência real, mora na ignorância de não sabermos quem nascemos para ser, ou simplesmente em esquecermos quem nos forjou.
Tenho dentro de mim muitos sentimentos ruins com os quais eu luto ferozmente diariamente, mas ser sensível e estar "sentimental" diante de algumas circunstâncias ou momentos, é a minha força, e o poder de ser de verdade, de aceitar ser de verdade, de ser real, humano, vivo, ser gente, isso é uma das maiores conquistas da minha vida.
Eu acredito de todo o meu coração, alma e espírito que nós nascemos para ser sensíveis, esse era para ser nosso estado normal, e foi culturalmente que aprendemos a não ser sensíveis. Que tragédia.
Nós aprendemos a rejeitar a sensibilidade, aprendemos a não gostar de ser sensíveis, aprendemos a rejeitar nossa essência.
E vou além, acredito que toda vez que somos conduzidos ao nosso ser sensível, seja por dor, doença, medo, frustração, ou reflexão, é um chamado de Deus para nos aproximarmos de quem nascemos para ser, é um chamado ao que há de mais original dentro de nós, a sensibilidade.
Acredito que sentir-se sensível é o espírito da vida nos chamando para perto de Deus, nos chamando de volta para nosso estado original.
Por obséquio, leia Efésios 4. 17 - 20 na versão King James, você vai se surpreender:
"Sendo assim, eu vos afirmo, e no Senhor insisto, para que não mais viveis como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos.
Eles estão com o entendimento mergulhado nas trevas e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, devido ao embrutecimento do seu coração.
Havendo perdido toda a SENSIBILIDADE, eles se entregaram a um estilo de vida depravado, cometendo com avidez toda espécie de impureza.
Entretanto, não foi isso que vós aprendestes de Cristo!"
É preciso reaprender a viver, é preciso reaprender a sentir, é preciso reaprender a ser.
Precisamos aprender a ser sensíveis com Cristo!
Danny Noronha.
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