DIA DA AMIZADE - Desafio da Palavra #AMIZADE
Eu ouvi essa frase por muitos anos, em parte da minha infância e adolescência.
Eu me sentia extremamente afrontada quando ouvia isso, e sentia uma espécie de raiva e medo, nem sei o que era pior, se a raiva de ouvir palavras negativas e cheias de "mistérios" nunca explicados ou medo de serem palavras de maldição do tipo "você nunca vai ter amigos porque a vida é ruim!", acompanhada com aquela risada de bruxa que a gente via nos filmes, sabe?!
Sabemos que as amizades na adolescência carregam um caráter de eternidade em si, aquele gosto de fantasia, gostamos de pensar que seremos eternos amigos das pessoas com quem nos relacionamos nessa idade.
Mas, vamos aos fatos.
Bem aventuradas são as pessoas que tem na vida adulta como melhor amigo, a mesma pessoa titular dessa posição desde a infância.
Na maioria das vezes o máximo que temos é uma amizade baseada no carinho e respeito mútuo embalado pelas boas memórias da infância. Mas, na prática não há quase nada na relação que justifique continuar usando o termo melhor amigo.
Então, o que seria uma amizade? Como definir um amigo?
Meu conceito de amizade é definido pela relação que temos com outra pessoa e nesse relação nutrimos afeto, carinho, companheirismo, bem querer, compartilhamos aspectos da nossa vida, história e intimidade, dividimos segredos, confissões, dilemas, alegrias, conquistas, vivenciamos experiências e quase sempre estamos em concordância em relação aos nossos valores e princípios de vida, etc.
É a construção de vínculos e conexões dentro de um determinado ambiente e contexto.
Amizade realmente é um negócio muito lindo.
Você deve pensar que depois de passar anos ouvindo que "ninguém tem amigo" eu tenha desistido de confiar em amizades, ou ter amigos.
Errado!
Eu sempre amei fazer amizades, apesar de haver uma tímida alugando um setor dentro de mim, eu sempre fui boa com pessoas, não disse que sempre atraía pessoas boas para perto de mim, eu disse que sempre fui boa com pessoas, é diferente, talvez eu fale mais sobre isso, outra hora.
Mas, não posso negar que toda vez que eu conhecia alguém, eu sempre me lembrava daquelas palavras, "ninguém tem amigo", toda vez que alguém me chamava de amiga, essa frase gritava na minha mente, toda vez que algum amigo errava comigo (e isso aconteceu muito, mas muito mesmo) eu sempre ouvia a voz dizendo: "ninguém tem amigo".
Mesmo assim, eu sempre perdoava, sempre relevava, e sempre deixava por menos, ao mesmo tempo que eu queria provar para mim mesma que aquela voz estava enganada, eu também queria acreditar que amizades verdadeiras existem.
A adolescência passou, a idade adulta chegou e eu já colecionava decepções de todo jeito, em todos os níveis de amizade e em todos os ambientes, não importava se os amigos eram da escola, da rua, da família, da igreja, trabalho, eu tenho experiências verdadeiramente ruins em todas as áreas.
Mesmo depois de tantas decepções eu ainda não estava pronta para admitir que aquela voz estava certa, nem estava pronta para admitir que eu escolhi a mal as pessoas com quem me relacionava, e muito menos estava pronta para admitir que a maior parte das decepções sofridas foram também, minha responsabilidade.
Sim! Da minha responsabilidade. Todos nós já fomos vilão na história de alguém, e muita gente legal aparece como vilão na minha história. Já passou da hora da gente superar a ideia de que somos sempre maravilhosos e outros sempre malvados.
Apesar de ter constatado nessa caminhada que a frase "ninguém tem amigo" é falsa, eu preciso dizer que foi dentro dessas relações que eu fui muito machucada, muito ferida, pessoas me trataram com real falta de respeito, crueldade, maldade e ingratidão, e sim precisei de cura sobre feridas, precisei decidir me afastar de muitas pessoas, precisei romper e quebra círculos de amizades inteiros, para viver e construir outros círculos e viver novas estações.
Essas experiências foram tão pesadas que eu cheguei a olhar ao redor e não consegui contar uma única pessoa com quem eu pudesse falar e ser acolhida na minha dor, vivi um momento de solidão que me deixou inicialmente desesperada, mas também serviu para que eu me concentrasse em construir o tipo de amigo que eu queria ser e determinar o tipo de pessoa que eu permitiria entrar na minha vida.
Foi um processo de reeducação emocional, espiritual, cura e libertação dentro e fora de mim.
Nesse processo eu aprendi muitas coisas.
Vou dividir com vocês três coisas que eu aprendi sobre amizade que com certeza mudaram a minha vida, e podem ajudar na sua caminhada nos relacionamentos interpessoais:
Tudo muda, devemos ter consciência disso e avaliar as mudanças, e aprendi a me responsabilizar pela amiga que sou e o tipo de amizades que quero para mim.
1 - Quando os ciclos mudam, os atores dos círculos também mudam - Na amizade nos relacionamos por afinidades, e interesses mútuos.
Às vezes, o simples fato de alguém gostar do mesmo filme, do mesmo time, ou das mesmas músicas, ou de estar na mesma sala de aula que você já é um motivo inicial para começar uma amizade. E mesmo depois de algum tempo, depois de percebermos que a gente não tem mais nada em comum, a gente já se acostumou com aquela pessoa por vários motivos, e vamos criando motivos para continuar a amizade.
Além da dependência emocional que criamos, visto que a amizade deve ser uma relação de liberdade, o problema se instala quando extremos da relação unilateral começa a dominar todos os aspectos da relação, exemplos como: manipulação, egoísmo, exigências de suprimento para carências emocionais etc.
Apesar de começarmos bem intencionados, e cheios de afinidades, precisamos entender que tudo muda, tudo passa. Acontece que nós mudamos, nossos interesses mudam, nossa vida muda.
Vivemos ciclos, vivemos tempos, vivemos estações na vida, andamos em circuitos diferentes em cada uma dessas estações, e deveria ser natural compreender que também mudamos os atores dos círculos que nos cercam, as pessoas ao nosso redor.
Criar novos círculos de amizade, mudar de círculos, viver outras experiências, com outras pessoas não deveria ser um momento tão dramático quanto costuma ser para algumas pessoas. Precisamos entender que não importa o que aconteça, mesmo que a gente não queira, A VIDA VAI MUDAR, e vamos nos encontrar naturalmente em outras estações, com outras pessoas, em outros lugares.
Precisamos amadurecer nossa maneira de lidar com as relações de amizade.
Liberar amigos para outros tempos em suas vidas e nos permitir viver outro tempo na nossa vida.
2 - Avalie sobriamente suas relações de amizade - A amizade é uma relação importante para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional, é necessária e positiva, se construída dentro de valores e princípios norteados por sentimentos e objetivos superiores como empatia, amor, bem querer entre outros.
Aprendi primeiro que tudo muda, e que algumas amizades não durarão para sempre e não estarão conosco em outras épocas da nossa vida.
E aqui eu aprendi que para uma amizade ser realmente algo positivo na nossa vida, além de sermos amigos, além de nos dedicarmos em sermos nossa melhor versão, também devemos nos posicionar de forma a não aceitar nada menos do reciprocidade.
Para servir ao próximo vamos dar sem esperar nada em troca, mas nas relações interpessoais a reciprocidade é fundamental, caso contrário não é uma relação, é um relacionamento unilateral. Na amizade, não basta gostar de fazer as mesmas coisas, e ir aos mesmos lugares e fazer parte da mesma turma.
Uma relação realmente saudável é nutrida pelos mesmos valores e princípios.
Eu me enganei por muito tempo achando que, se eu respeitasse o mau humor e falta de caráter da minha "amiga" que justificava seus atos egoístas, invejosos e grosseiros por ser do signo de Escorpião, ela um dia me respeitaria. Que um dia ela demonstraria atos de valores elevados. Eu não poderia estar mais enganada.
Mantenha relacionamentos interpessoais que te levem para mais perto do que você acredita, que te levem a níveis maiores no desenvolvimento de suas qualidades e que te inspirem a melhorar em áreas de vulnerabilidade.
Relacionamentos unilaterais são para doação em amar o próximo, e não em se relacionar diariamente com esse próximo enquanto esse próximo mantem o coração longe de você, e te afastam do melhor que você pode ser e ter.
Avalie mais sobriamente seus relacionamentos, viver de emoção é para donos de parque de diversão.
3 - Responsabilize-se pelo amigo que você é, e o tipo de amizade que você quer para você - Sem dúvida as relações têm pontos muito negativos, como a ausência de reciprocidade saudável, a dependência emocional, a toxicidade e abusos nas relações de amizade. E por incrível que possa parecer isso hoje em dia é mais comum do que parece.
Não é normal, nem devemos deixar isso se normalizar, mas é comum encontrar pessoas que estão em relações doentias e pior, elas nem percebem isso.
Vou citar um exemplo simples de um caso que acompanho, que pode fazer você avaliar se está em uma relação tóxica:
Se você está em uma relação onde o humor negativo, o mau humor do amigo é quase constante e quase sempre essa pessoa está "precisando" de você para regular esse humor, cuidado essa pessoa não está vendo em você um amigo em que pode confiar, essa pessoa na verdade está usando você como para-raios , essa pessoa está sugando sua energia, essa pessoa pode carregar em si uma carência interna tão grande e não resolvida que ela precisa se sentir aceita, acolhida, e pra isso vai usar sua boa vontade para despejar sobre você o peso da responsabilidade de entendê-la, respeitá-la, aceitá-la e de supri-la, a tal ponto que não interessa o quanto você esteja cansada de lidar com aquilo a pessoa não muda, e às vezes você fica esperando que a pessoa mude o comportamento e ela nunca muda.
Por outro lado, se você responde a essa amizade sempre com a atitude de: eu entendo, deixa que eu resolvo, deixa que eu sei resolver, deixa comigo, deixa que eu suporto, vou cuidar, eu entendo, tadinha ela está estressada de novo, tadinha ela não consegue lidar com seu humor, ela não consegue se expressar e precisa de mim para entendê-la, é possível que você esteja também alimentando dentro de si uma carência igualmente nociva, esse excesso de sentimentalismo materno, de aceitar o inaceitável, de aceitar o mínimo, de viver uma relação onde você está sempre apenas dando e entendendo a tão ponto que você nem consegue admitir o quanto essa amizade te suga, te cansa e te faz extremamente estressada com o restante dos teus relacionamentos. Cuidado!
Amigos não são para-raios, amigos não nosso moduladores de humor, amigos não são nossos remédios, amigos não são sacos de pancadas, amigos não são mães, não são pais, não são psicólogos, amigos não são nossas dispensas de boas emoções, onde entramos, comemos tudo, nos fartamos, ficamos bem e deixamos a outra pessoa tão vazia, que basta passar meio dia com essa pessoa para você se sentir cansada, estressada, e com sua energia tão baixa que não sobra nada de bom em você para se relacionar com outras pessoas, tudo o que você quer é dormir, descansar ou ser compensada, e é aqui que você pode iniciar um ciclo de amizades tóxicas, você acaba procurando outra pessoa para fazer o mesmo, "ah vou falar com fulano ele é sempre engraçado, vai me tirar dessa deprê, vai me animar", e aqui você se torna a sugadora de energia, usando outra pessoa como seu para-raios.
(Tudo isso tem explicações espirituais e psicológicas, mas não sou psicóloga, sou escritora, teóloga e pastora e é dentro da minha área de conhecimento que eu vou trazer a você luz sobre esse assunto tão delicado.)
Mas, porque eu estou trazendo tudo isso para falar sobre responsabilidade? Simples!
Para que a gente entenda, que em uma relação não podemos ver apenas a primeira pessoa da história como sendo o lado ruim, e a segundo como o lado bom. Isso não é simples ou superficial, é complexo. Seria uma irresponsabilidade da minha parte dizer que consegui expor aqui todos aspectos de uma relação de amizade tóxica.
Precisamos entender que toda a dinâmica citada acima não é, na prática, executada de forma consciente (claro que existem casos que isso acontece de maneira consciente para um dos lados, geralmente é o do primeiro caso, mas não é sobre isso que estou falando), tudo isso se dá entre horas de risadas, de trocas, de conversas, de encontros legais etc.
Eu apenas dei um exemplo superficial para que você pudesse entender do que eu estou falando, Uma relação onde você está apenas dando, doando, uma relação onde você não está se desenvolvendo, nem sendo inspirada, não está crescendo, não há troca, não há saúde, você está apenas sobrevivendo.
E onde entra a tal da responsabilidade? Entra quando você tem em suas mãos a responsabilidade por essa relação existir, por mais que você venha a se sentir vítima, é importante lembrar que não estamos em uma disputa entre o bem e o mal, o vilão e o mocinho, não é uma situação de qualidade dualista, onde você vai simplesmente dividir quem é a amiga vítima e a amiga tóxica, é mais uma situação de responsabilidade pessoal.
Ou seja, toda vez que você se deparar com uma situação onde você descubra que o relacionamento que você está é doente, nocivo de alguma maneira, tóxico por algum motivo, não se concentre em julgar apenas a atitude do outro com você, mas principalmente o que levou você a se permitir estar em uma relação assim.
Ore, peça a Deus para mostrar a você a verdade por traz de seus relacionamentos, pense sobre isso, anote situações repetitivas de conflito, decepção etc. Peça ajuda espiritual, busque conselho, peça ajuda profissional para lidar com situações emocionais que mesmo depois de aconselhamento, mudança de posicionamento, você sente que por dentro as coisas ainda não se encaixaram.
Seja responsável pela sua vida, seja responsável pelo tipo de amigo que você é, e pare de ficar como responsável pelo tipo de amizade que o outro tem para oferecer, algumas pessoas como eu, passam anos se responsabilizando pelo tipo de amigo que o outro é, justificando o amigo, defendendo o amigo, protegendo o amigo, aceitando seus defeitos mesmo quando claramente eles não têm a mínima intenção de mudar ou seguir seus conselhos, quase sempre esses são os amigos que te influenciam te afastando daquilo que você acreditava e tinha como valor e princípio, enquanto que você nunca tem a companhia desse amigo em nada que seja exclusivamente do seu gosto, escolho ou deleite.
Esse texto já está enorme, tá quase um capítulo de livro, mas eu precisava compartilhar com você as coisas que aprendi sobre a amizade.
Que nesse dia da amizade você possa refletir sobre as amizades na sua vida, que você possa medir o valor que você dá a elas e o valor que elas realmente tem.
Por experiência própria eu descobri que a frase "NINGUÉM TEM AMIGO", não é verdadeira.
Contudo fique atento, se responsabilize pela círculo de amizade de você constrói, antes de decidir conviver com algumas pessoas, avalie melhor suas escolhas e tenha seus valores e princípios sempre em prioridade, uma amigo que não te inspira em ir além no que você acredita é potencialmente um inimigo dos seus objetivos e da sua jornada.
Vou colocar aqui embaixo a sequência de quadrinhos de reflexão sobre o TEMA AMIZADE, escolhido pela seguidora Nina Luzia para o "Desafio da Palavra" que eu comecei no Instagram.
Comentários
Postar um comentário