Quem Vê Religião, Não Vê Suicídio - Série Motivos Para Viver

 Vou a igreja desde criança, tive um encontro com Jesus aos 12 anos, recebi o título oficial de pastora há mais de dez anos, já fui pastora de igreja local, estou no meu segundo Curso de Teologia, sou conhecida como um mulher de muita fé, criei meu próprio método de meditação na Palavra de Deus, tenho mais de 15 anos de experiência em aconselhamento de jovens e casais e há dois anos eu pensei e planejei o suicídio pela primeira vez.


Eu precisei quebrar o resto de religiosidade que existia em mim para aceitar a medicação que o Psiquiatra me passou, fui encaminhada ao tratamento Psicológico, mas não consegui por causa da Pandemia, essa situação fez o desespero tomar proporções nunca vivido antes.


Foi aí que o milagre se fez, o Espírito Santo me trouxe sustento diário por todo o tempo que eu fiquei sem acompanhamento psicológico.


Nesse período eu escrevi um livro pequeno relatando a minha experiência com a depressão, crises de pânico, ansiedade e o suicídio, publiquei de forma autônoma na Amazon, e deixei disponível pelo menor valor autorizado pela plataforma, e quem tem o Amazon Unlimited pode baixar gratuitamente.


Estou frequentando disciplinadamente a terapia há um ano, e não preciso mais de medicação desde setembro de 2020. Contudo, se necessário, volto ao tratamento medicamentoso sem problemas, eu convivo com uma síndrome que me deixa vulnerável a mudanças nos níveis hormonais, e compreender isso é fundamental, tenho uma limitação biológica que nada tem a ver com o meu nível de espiritualidade.

Ao contrário disso, quanto mais espiritual me torno, mas eu respeito minha humanidade e minhas necessidades como ser humano.


Minha vozinha sempre diz: quem vê cara, não vê coração. Isso nos ensina que as aparências enganam, que nem sempre uma boa atitude é sinal de que a pessoa é boa e vice versa, às vezes tomamos decisões ruins e nem por isso somos pessoas más.

E isso com certeza serve para os casos de pessoas em sofrimento psíquico, nem sempre a pessoa nesse estado vai demonstrar o que está vivenciando por dentro, e o contrário também é válido, mesmo a pessoa que fala sobre seus sofrimentos ainda está vulnerável o suficiente para cometer suicídio.

O tanto que essa pessoa ama a Deus, o tanto que essa pessoa é caracterizada como uma pessoa de fé, o tanto que ela já teve experiências com Deus, o quanto ela sabe de Deus não significa que ela ficará imune à sofrimentos psiquiátricos.

Se a sua fé em Deus, se o seu conhecimento teológico e sua experiência de fé não te leva a respeitar e compreender seus limites físicos, psíquicos, biológicos, e não te leva à respeitar a sua humanidade, então você está vivendo um evangelho antibíblico.

Pessoas com muita fé e cheias de amor e alegria, também podem adoecer e também podem estar vulneráveis e suscetíveis ao suicídio.

Quem vê religião, não vê suicídio.

Ter um olhar religioso sobre a vida não é ter um olhar cristão, o evangelho de Cristo nos leva a entrar em contato com as mazelas humanas, e sim, Ele é um Deus de milagres, contudo precisamos reeducar nosso conceito de milagre.

Minha experiência pessoal me ensinou que milagre é a ciência ter evoluído a ponto de possuir moduladores hormonais para me livrar da depressão, milagre é alguém ser capacitado para lidar com transtornos que vão além dos problemas espirituais e precisam além de oração, uma ação, uma ação profissional de tratamento psiquiátrico e psicológico.

Milagre também é ter acesso a tratamento especializado naquilo que a fé tem resposta mas, não pode explicar.

Não importa a sua religião, se você é um ser humano, vai precisar colocar suas orações em prática cuidando também da sua saúde psíquica.

Orar e não agir já é em si um caminho de morte. "Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta." Tiago 2.17

Eu sempre digo que Cristo me curou e me libertou, mas só o tratamento psiquiátrico e o tratamento psicológico me capacitou para usufruir dessa liberdade e usufruir dessa cura.


A fé em Cristo me cura, mas é a terapia que me ajuda a viver com as sequelas das feridas e traumas.

A fé em Cristo me libertou, mas é a terapia que me ajuda a usufruir da liberdade conquistada.


É função nossa, da igreja ensinar que há distúrbios biológicos, transtornos psicológicos que nos levam a doenças como depressão, ansiedade etc. e pode sim levar uma pessoa de fé, sábia, cheia de Deus há um momento de profundo sofrimento, onde o suicídio não é uma opção, na verdade é o resultado de um luto e velório vivido internamente enquanto as pessoas vivem ao nosso redor como se nada tivesse acontecendo.


Quem está vivendo esse luto (seja lá por qual motivo for, para cada pessoa é um motivo diferente) se sente no próprio funeral, sente que a morte já tomou conta de tudo dentro e fora de si e não há mais esperanças, não importa o quanto essa pessoa seja cheia de conhecimento e sabedoria, fé e amor, pasmem, alegria e criatividade, a morte interna simplesmente já causou um estrago considerável dentro de quem vive, foi assim comigo e quanto mais eu converso sobre isso com outras pessoas, mas similaridade eu percebo com histórias de outras pessoas.


Por muito tempo reinou a máxima catastrófica de que falar sobre suicídio poderia incentivar a prática como se isso fosse resultado de uma decisão consciente, o suicídio não é uma decisão consciente, e falar sobre Suicídio salva vidas, não falar é omissão de socorro.


A pessoa que está com ideação suicida, que tem um pensamento recorrente de suicídio está vivendo seu próprio luto, seu funeral.

O Suicida vive o luto antes da morte chegar, os familiares o vivem depois dela.


Eu sei que uma das consequências de termos sido tão omissos anteriormente, não falando abertamente sobre o tema, nos fez incapacitados de lidar com uma situação dessa na família, no grupo de amigos etc., e por causa disso nos omitimos, fingimos não ver porque tememos enfrentar o que não conhecemos.


Para tentar remediar essa realidade, vou fazer algumas notas:

1 - Você não precisa saber o que fazer, não precisa temer a responsabilidade de ter a vida daquela pessoa em suas mãos.

2 - Você só precisa estar ali, você só precisa mostrar que se importa de verdade, estar inteiro em qualquer diálogo com essa pessoa.

3 - Não precisa saber o que dizer, portanto se você não for um especialista e não estiver capacitado para isso, não tente dizer nada, e de forma alguma tente usar uma experiência pessoal ou de terceiros para tentar "diminuir" a tensão. Lembre-se que o silêncio num funeral, às vezes é o melhor consolo.

4 - Informe-se, se você convive com essa pessoa não há desculpas para permanecer na ignorância, há milhares de formas de se obter conhecimento sobre os motivos que levam alguém ao suicídio. Informação é uma vacina contra a ignorância e uma boia salva vidas muito bem vinda.

5 - Ajude essa pessoa a pedir ajuda, você não precisa ir até um consultório, acompanhar todo o tratamento nem se responsabilizar por isso, mas você pode ajudar essa pessoa a pedir ajuda. Marcar uma consulta com um clínico geral para começar, um psiquiatra, um psicólogo, colocar a pessoa em contato com algum grupo de apoio especializado entre outros meios de ajuda.

6 - Nunca diminua a dor (os motivos, as circunstâncias, os sentimentos, as causas, as justificativas) da pessoa, mesmo que para você o que a pessoa diz não faça o menor sentido, para ela aquilo é extremamente importante. Ex.: A pessoa pode dizer a você que ela está cansada de ser burra, de se sentir ignorante, que não acredita que valha a pena viver porque acha que nunca vai conseguir concluir nada, quando você sabe que ela é muito inteligente e todos o admiram pela sua inteligência e competência.

Não contra argumente, deixe a pessoa falar, não tente convencê-la da sua capacidade, entenda que a pessoa não está psicologicamente bem para compreender.

7 - Não se torne o "ouvinte oficial" dessa pessoa, essa pessoa precisa de atenção especializada, capacitada profissionalmente para atender estados severos de sofrimento psiquiátrico.

8 - Acolha com amor, acolha com carinho, abrace, ouça, mas encaminhe essa pessoa para a ajuda especializada. Pacientes em tratamento cometem suicídio, ou seja, se até quem está com uma escuta e acompanhamento profissional perde a luta, quanto mais quem não está em tratamento especializado.

9 - Não use o que essa pessoa te confidenciou contra ela, isso acontece muito em relações mias próximas como familiares, por exemplo. Não faça isso, respeito é fundamental para dar a essa pessoa um espaço saudável para que ela se sinta segura.

10 - Se você convive com alguém que sofre depressão, ansiedade, ou tem algum transtorno, pense sobre fazer terapia, considere também procurar ajuda psicológica, isso vai ser extraordinariamente positivo para o tratamento e a saúde da família em geral.


A minha psicóloga Tainá Gaidzinski diz que "todo suicídio é um homicídio", e eu concordo com ela, eu sou a prova viva disso, eu nunca quis morrer, lutei contra a morte a vida inteira desde o ventre da minha mãe(sou sobrevivente de aborto), sempre tive paixão pela vida e mesmo assim eu queria matar essa mulher corajosa, destemida, forte e resiliente.

Se eu tivesse ido em frente e tomado todos os comprimidos no momento de ímpeto, antes da intervenção de Deus, antes de começar a pensar como e quanto tempo...Todos teriam dito "ela se suicidou", simples assim, depois as especulações começariam, ficariam desesperados tentando entender "como assim, como isso aconteceu?".

Alguns diriam que algo aconteceu, outros desconfiariam de homicídio, outros lembrariam dos sinais que viu e não teve coragem de enfrentar, outros se sentiriam culpados, outros ficariam bravos, mas o que ninguém sabe é que eu também fiquei arrasada de olhar para a minha vida e não ver mais solução para toda a dor, todos os traumas, toda tristeza, todo pensamento sem sentido e/ou sem argumento sólido que me impede de sonhar e ver esperança no amanhã.

Ninguém saberia porque eu matei todas as coisas maravilhosas em mim, por não conseguir me livrar de todas as coisas terríveis que estavam me afetando profundamente, mas não faziam parte de mim de verdade. Ninguém saberia explicar porque eu matei o que eu era, enquanto queria me livrar do que eu estava sendo. Ninguém saberia porque eu tomei uma atitude definitiva para problemas passageiros.

Sim, JESUS é a cura para toda dor, sim, JESUS é a liberdade para toda prisão, é amor para todo desamparo, é o alívio que a alma sofredora precisa. Sãos ou doentes, Ele nos ama, e acredite Ele sempre vai criar meios de te encontrar, mesmo que você não consiga sentir ou entender isso agora.

O psicólogo Jonatas Leônio e sua esposa Jéssica escreveram o seguinte: "O que você quer é VIDA, PAZ, JUSTIÇA, ALEGRIA, ACEITAÇÃO! Não procure isso na fonte errada! Você nunca achará VIDA na morte!...Não se isole, se aproxime de Deus e das pessoas que te amam. Tudo vai ficar bem!".

Eu completo dizendo que não devemos esquecer que a nossa vida é fruto da RESSURREIÇÃO DE CRISTO e não apenas da sua morte, e tudo o que podia nos matar Ele levou sobre si na cruz, não precisamos morrer, Ele já morreu por nós, agora a Sua vida pode nos curar da morte invisível que paira na mente de quem está em sofrimento mental.

Quem vê religião, não vê suicídio, não pense duas vezes antes de pedir ajuda para si ou para o outro.

Busque ajuda médica, busque ajuda psicológica, eu me incluo nessa mensagem, não desista, porque por aqui eu decido que vou continuar lutando para viver.

A FÉ EM CRISTO E NO TRATAMENTO MÉDICO E PSICOLÓGICO É UM LINDO MOTIVO PARA VIVER!

Bjo na alma,

Danny Noronha.


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